O que chama de imediato a atenção são as imensas usinas de dessalinização, onde eles preparam a água do mar para consumo. Regam as plantas com o auxilio de quilometros de mangueiras que ficam gotejando água para aguar o desejado verde. Perguntei-me se a transformação não seria muito radical, e é. O impacto sobre o meio ambiente foi tamanho que muitos projetos de ilhas artificiais forma interditados e atualmente a ONU está de olho neles. Morreu peixe, morreu coral, desapareceu bicho, mudou clima, alterou até a direção de correntes marítimas. Sheik Zayed, seu sonho sai caro para o planeta!
O outro sonho do sheik é a Mesquita, a grande mesquita branca, que à noite fica iluminada com uma suave luz azulada. Faraônica, um luxo.
Para nós, mulheres a entrada só é permitida usando abaya e véu. Preto. Quase desmaiei. Pelo menos usei o véu como óculos de sol. O sol é forte e o branco dói nas vistas.
Os homens usam roupa branca, chamada candura, bem mais fresquinha. Podem entrar com roupas ocidentais se quiserem.
Nossa guia trouxe abayas para todas as mulheres e apenas uma candura. Hélio foi o felizardo escolhido para bancar o sheik... e divertiu todo o "harém" com suas tiradas cômicas.
Sheik Zayed soube usar a riqueza do petróleo para trazer para seu povo tudo de bom do resto do mundo. Acredito que hoje a cultura árabe esteja desaparecendo rapidamente. As lojas mais caras do mundo estão lá repletas de mulheres se abastecendo de perfume francês, chocolate belga e toda tipo de roupas de luxo e parafernália eletrônica.
Os árabes que me desculpem, mas prefiro minha cultura. Sufoco dentro dessas roupas.
Dentro de imensos prédios luxuosos, com ar condicionado, e de imensos shopping centers, encontra-se de aquário a pista de esqui. Ali estão as pessoas. As ruas, desertas. Embora estivesse mais fresquinho que aqui em Santos quando passei por lá. Não passou dos 30 graus.
Em uma das noites, vimos o espetáculo das águas dançantes, que começa às seis da tarde, vai repetindo a cada meia hora, sempre uma música e coreografia diferentes. Ao por do sol é tudo branco, e quando a noite cai a água ganha cores variadas. Gostei.
O país é o mais aberto das países árabes para os estrangeiros, que são 80% da população. A ciadadania é apenas para os locais. Quem nasce lá fica registrado na nacionalidade do pai, como, por exemplo, brasileiro 1, 2, 3... o número indica a geração nascida ali, mas não vira cidadão, não. Eterno infiel...
O deserto? Deserto. Literalmente. Sem nômades, sem tendas, sem caravanas. Só areia, mesmo, e um restaurante para turista - oferecendo dança egípcia, turca, passeio de camelo, tatuagens de hena feitas na hora, fotos com trajes árabes e sisha (que é como eles chamam o narguilé)
Vimos por acaso uma dança das tribos locais, dançada apenas por homens que fazem coreografia. Estavam inaugurando um restaurante e um grupo dançava na rua.
Yowalah - ou dança da vitória duas filas de homens levantando e abaixando seus bastões.
As tamaras são servidas ao entrar no hotel, acompanhadas de café turco no bule compridinho deles ? O café preparado com cardamono e servido sem açucar é muito bom, sem o amargor do café brasileiro.
Dica - compre tâmaras no supermercado são mais frescas, mais graúdas e mais saborosas que as compradas no aeroporto ou no mercado.
A comida árabe é deliciosa, queijos, coalhadas, pães, homus, arroz com legumes e o cordeiro que estou comendo aí na foto ao lado da Aninha.
O sonho de
um árabe
Seu povo morava
em tendas, andava de camelos e ele acordou milionário.
Em 1971,
Sheik Zayed bin Sultan Al - Nahyan, muçulmano piedoso, desejou que Saint- Exupéry
estivesse vivo para reescrever o capítulo de Terra dos Homens em que um árabe,
olhando uma fonte perene, pergunta “porque o deus dos franceses ama mais os
franceses do que o deus dos árabes ama os árabes”.
- Como se
vê - comentou o arcanjo Gabriel,
servindo-se de uma tâmara – a riqueza sempre esteve embaixo de seus pés o tempo
todo.
- Com esta
riqueza vou comprar mais do que água – riu Zayed, feliz – Vou comprar os
serviços dos maiores especialistas do mundo. Construir prédios com ar
condicionado para o povo. Abrir escolas. Até o filho do mais humilde tratador
de camelos desta terra receberá instrução. Vou abrir as portas do mundo árabe
para os estrangeiros. Será bom para outros países, também. Muitos desempregados
ficarão felizes em limpar nossas ruas e esfregar nossas vidraças. Os árabes
todos serão patrões.
Gabriel
engasgou-se com sua tâmara. Sheik Zayed apressou-se em oferecer-lhe outra
xícara de café com cardamomo.
- Aquele
outro profeta, Jesus, disse que “quem não está contra mim...”. Somos todos
descendentes de Lucy, não é mesmo, arcanjo?
Gabriel
riu.
- Zayed,
você é sábio. Um visionário.
- Todos os
povos podem viver pacificamente respeitando-se uns aos outros. Eu não quebrei
nenhuma imagem de Buda e espero que eles não entrem em minha mesquita sem os
trajes adequados.
- Que
mesquita?
- A Grande
Mesquita que vou construir, tão bela quanto o Taj Mahal.
- E como
vai chamar a mesquita? – gaguejou Gabriel.
- A Grande
Mesquita, simplesmente. Isso diz tudo, não?
“Ele é
generoso sem ser vaidoso”- pensou Gabriel.
- Unidos
seremos uma forte nação. Jogaremos os jogo das nações conforme as regras
ocidentais. Nada temos a perder. São eles que precisam de nosso petróleo. Todos
ganharemos com o que eles chamam de “progresso”.
- Sheik,
senti uma ponta de ironia em seu discurso. Como quando falou de Lucy, o fóssil
que muitos antropólogos consideram ser o ancestral comum da humanidade.
- O
progresso nunca esteve em coisas materiais, Paz e amor são tão valiosos hoje
como nos tempos do profeta Mahommed. Allah seja louvado.
Distraído,
o arcanjo Gabriel quase exclamou Shalom ao invés de Salam.
A hora da
prece se aproximava. Sheik Zayed acordaria e Gabriel deixaria seu sono.
- Antes de
partir, Gabriel, leve os meus agradecimentos a Allah e peça-lhe que ilumine meu
entendimento para a realização do mais caro sonho de meu coração.
- A Grande
Mesquita, sei.
- Não,
Gabriel! Meu grande sonho é transformar o deserto em um jardim. Se tirarmos o
sal da água do mar e estendermos quilômetros de canos gotejando sobre o solo...
O muezim
chamava, o sheik acordou e Gabriel começou a preocupar-se com as consequências
geradas no planeta pela dessalinização do mar – como isso afetaria o clima
global, as correntes oceânicas, a fauna e a flora do golfo de Oman? Como se não
bastasse a trapalhada que era ser intermediário do Altíssimo para três
diferentes credos...
Os sonhos
de Sheik Zayed hoje são realidade.
Mais do que
um árabe a mais no deserto, Sheik Zayed foi um homem no planeta Terra, o lar
comum de todos nós.
O grande
feito do sheik, a meu ver, foi a capacidade de enxergar, para além do mundo
árabe, o ser humano, merecedor de respeito, qualquer que seja sua fé, sua
língua, seus costumes.
Um comentário:
adorei estas fotos, tu de árabe estás demais, gostei dos comentários, obrigada
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