segunda-feira, 7 de julho de 2014

Portugal - Lisboa - 2014

Cá estou eu na terrinha de meus antepassados (pelo menos de um quarto deles)
O Campo Grande é o maior parque de Lisboa, ladeia os edifícios da Universidade de Lisboa, é zona de ciclismo, corridas e caminhadas.

Procurei alojamento meio em cima da hora por conta de uns problemas com o computador, pesquisei pelo site de alojamentos www.airbnb.com onde pessoas que tem quartos ou casas inteiras para alugar colocam anúncios - achei várias, mas nenhuma com ar condicionado nem ventilador; uma me disse que havia uma janela no telhado (?), outro que me arrumaria um ventilador se eu fizesse questão...Esses europeus acham o máximo passar calor, mas houve uma onda quente muito forte em maio. Procurei pelo site www.booking.com e os hotéis estavam pela hora da morte. Foi minha filha, com um bom computador e tempo, que, lá da Asutrália, garimpou uma promoção para mim no Lisbon City Hotel - é preciso garimpar, em cima da hora, quando eles se vêem meio vazios, abaixam os preços, mas não recomendo este técnica, se os hotéis todos ficarem lotados, você terá que paga ainda mais caro! Enfim, para mim, funcionou, e estou aqui por 60 euros a diária, café a 7 euros à parte, como eu como pouco não compensa.

Escolha do hotel - pelas proximidades do Chiado e Bairro Alto, que é onde estão as atrações de rua. O bairro de Belém é longe demais, é melhor pegar um tours e ir para lá 2 dias seguidos pra ver tudo o que interessar, tem muito coisa, mas não achei que valesse a pena ficar lá.

Alimentação aqui é metade do preço de Nice. Cerejas em Nice, 8 euros/kg, cerejas em Lisboa, 2 euros/kg. No chiado, então, é inacreditável: 1,2 euros um caldo verde!


Praça da Figueira, ao alto o Castelo de São Jorge.
Arco da rua Augusta, e Terreiro do Paço; em primeiro plano a estátua de D. José.

Bem, cheguei e fui checar as redondezas, passei pela praça da Fiqueira, onde está a estátua de D. Pedro IV, e daí à praça D. Pedro IV, antigo Rossio, onde não há nenhuma estátua de D. Pedro (soa familiar para quem mora em Santos? Está explicado o que acontece com nossas praças, é herança lusitana.) Olhando para o alto, posso ver um belo castelo embandeirado, que é o Castelo de São Jorge. À noite, iluminado, fica bem bonito. Fui ao Tejo, pela porta do Arco, e pelo caminho, comprei um pastel de nata bem gostoso por 1 euro em uma barraquinha.


Este doce português de feijão á amarelo e tem gosto de queijadinha, recheio à base de creme de ovos como na maioria dos doces, cremosos e deliciosos.

Na praça do Rossio -  embora o nome oficial seja D. Pedro IV, passam várias linhas de turismo, a yellowtours, mais cara, a Lisbontours que oferece o melhor preço, e a Officail seesighng line, com trajeto e preços semelhantes. A Lisbon oferece melhores descontos para quem combina mais de uma linha. Todas oferecem descontos em algumas entradas - como eu estava com carteirinha de estudante, para mim compensou mais usar a carteirinha. (viva a Alliance Française, que não colocou data na carteira!)



Pontos de interesse.
Arco da Rua Augusta - com acesso a um fabuloso miradouro que proporciona aos visitantes uma panorâmica única sobre a cidade.
Acessível através de um elevador, cuja entrada se localiza na Rua Augusta, o miradouro que se encontra no topo deste monumento oferece uma vista deslumbrante sobre a emblemática praça do Terreiro do Paço, a Baixa Pombalina, a Sé, o Castelo de São Jorge e o rio Tejo.

E com o mesmo esplendor de outrora, na parte superior do Arco é possível observar as esculturas de Célestin Anatole Calmels representando a Glória, coroando o Génio e o Valor.
Já no plano inferior, encontram-se esculturas de Vítor Bastos, que representam as personalidades históricas de Nuno Álvares Pereira, Viriato, Vasco da Gama e Marquês de Pombal.


Compre o passe combinado para o museu Memórias da Cidade, cuja entrada fica ao lado esquerdo do Paço - também conhecido como Praça do Comércio. Foi o melhor museu que visitei, pois é como um espetáculo em que nós, personagens vamos andando e participando dos acontecimentos projetados na tela, incluindo o terremoto de 1755. A passagem pelo armazém do cais é bem legal, pois há os aromas de especiarias, café etc O percurso todo demora uma hora, começa nos fenícios, passa pelos romanos, mouros, cruzados... vinte séculos de fatos e mitos; termina por um filme em tamanho real tridimensional no Terreiro do Paço, rememorando o marquês de Pombal, a revolução dos cravos, e diversos festivais populares atuais. O filme que representa as discussões sobre o plano de reonstrução de Lisboa após o terremoto é bem interessante, com a demonstração das estruturas em gaiolas utilizadas na reconstrução da cidade, e que são pioneiras nas edificações antissísmicas.

Restaurante Estrela - na esquina do Terreiro do Paço, serve um bolinho de bacalhau recheado com queijo da serra (daí o nome, queijo da serra da Estrela) que é tudo de bom.... acompanhado com choppinho da casa...



Museu da Cidade
Museu da Cidade - fica no Campo Grande, longe da parte histórica. Vale a pena ir de metrô.
Para quem gosta de arqueologia, é bem interessante, com materiais desde o paleolítico. O edifício em si mesmo é bonito; trata-se do Palácio Pimenta, construído no século XVIII.e tem uma parte azulejada bem interessante. Há planos da canalização da água de Lisboa depois do terremoto, planejada pelo Marquês de Pombal.

Outro ponto interessante, ainda nas alas deste museu,  é a coleção de imagens caricaturescas de João Abel Manta, muito conhecido pelas charges com que combateu a ditadura, e do pintor Almada Negreiro.
Ao fundo do museu, há o jardim de buxo, cheio de pavões, uma fonte, alamedas de plantas. Ao fundo, outra exposição, desta vez fotográfica, de Artur Pastor, conhecido pelas fotos com que documentou os trabalhadores portugueses, e cujo acervo foi comprado pela prefeitura após sua morte.

Museu do Fado - na praça do Comércio, há discos, fotos, filmes, indicações dos restaurantes lisboetas que apresentam shows musicais.

Chiado - tem restaurantes com comida típica, bem mais barato, no largo do Chiado, ao lado do Restaurante A Brasileira (homenagem a Amália Rodrigues) está a famosa estátua do poeta Fernando Pessoa, com uma cadeirinha para quem quiser sentar-se e tirar foto (pena que eu estava sozinha...)
No Armazém do Chiado (para eles armazém é um centro de compras) estão as lojas de griffe, e importadas, para alegria dos aficcionados de compras.

Bairro Alto - pode-se ir a pé ou usar o elevador da Santa Justa - é pago, mas o problema maior é a demora: 10 minutos entre uma viagem e outra, e dá para subir em 3 minutos pela escada.
Ao chegar lá no alto, além de uma vista de mirante, pode-se visitar as ruínas da Igreja do Carmo, cujo teto desabou durante o terremoto de 1755. Os lisboetas optaram por não reconstruir, e fizeram aí um sítio arqueológico para rememorar o ocorrido.

                  


Cais do Sodré - aí se pegam os passeios de barco, turísticos ou normais, pelo Tejo. Uma vaigem normal custa 1 euro e deixa o turista em alguma cidade do outro lado do Tejo. Os turísticos passeiam até a foz do tejo, passando pela Torre de Belém, duram cerca de 1 hora e custam cerca de 10 euros,

Utilizando as linhas turísticas para ter uma idéia de onde voltar depois, com mais calma:

Linha verde - Castelo.
 fiz o primeiro passeio pelas ruas do centro, passando pelo bairro do Alfama e inda até o Castelo São Jorge. Os lisboetas chamam-no de A Muralha, e quando entrei lá, entendi porquê. É um sítio arqueológico - com algumas partes bem arruinadas, sua fundação data do século XI, onde haviam senhores locais; em 1147, Alfonso Henriques conquistou Portugal e fez do castelo a residência real, assim permanecendo até o século XVI.
Mais tarde, sobre domínio espanhol e mouro, o castelo foi utilisaco como caserna e sofreu algumas reformas, todas destruídas com o terremoto de 1755. Foi no século XX que um trabalho de reconstrução permitiu o achado de suas bases, e ele foi tombado por decreto real.

Castelo, visto da Mouraria.
Toda a muralha, com suas ameias, pisos e escadas, estão quase intactas.
Está bem preservada a Sala do Tesouro, onde se guardavam, é claro, os tesouros da coroa.
esta sala, atualmente, é utilisada como Câmara Obscura - é o mesmo que a Câmara escura de uma máquina fotográfica antiga, sua lente e espelho estão afixados a um periscópio no alto do castelo, e a imagem é projetada em um anteparo côncavo suspenso na sala. E muito interessante, pois o guia nos mostra os locais turísticos, Almada, o rio Tejo, e vai contando sobre a História da cidade.

Há uma sala de exposição permanente com achados arqueológicos que começam no paleolítico, passam pelos fenícios, romanos, gaélicos...
O centro do castelo, totalmente em ruínas, é enorme.
A vista da cidade lá do alto é maravilhosa, e em volta tem lojinhas com artigos protugueses, lembrancinhas, lanchonetes etc...



A subida para o castelo começa em Alfama, em um mirante lindo chamado Porta do Sol. Avista-se o Tejo, e entre as casinhas, sobressai a torre da Igreja de São Vicente, padroeiro de Lisboa.
Por uma íngreme escadinha, há acesso ao bairro e suas ruelas.

Praça dos Restauradores - a uma quadra do Rossio.
 em frente à Estação de Comboios.

Praça do Comércio - onde está a Casa dos Bicos, com o acêrvo do escritor José Saramago.
Linha vermelha - Belém.
É um trajeto longo que oferece muitas opções, desde zoológico a passeio de barco pelo Tejo, desde que você saiba que os passeios existem, e os horários dos barcos e se programe para estar lá no horário da partida.
O grande lance é o Mosteiro dos Jerônimos e suas imediações, vou colocar um artigo só sobre o bairro de Belém, pois é muita coisa.
Na praça da Estrela, o turista pode acessar a Casa de Fernando Pessoa - é uma fundação cultural. Fica a apenas duas quadras do ponto, que é em frente à praça da Estrela. O motorista não sabia informar, o portugues da lanchonete onde almocei me disse que era seguir toda a vida pela esquerda até a rotunda, depois seguir em frente direto até...virgem Maria, deve ser longe! Nada, 'so 15 minutinhos a pé... No calorão da tarde?... No fim, o 'toda a vida'dele eram 2 quadras e a a Casa ficava no meio do primeiro bloco, bem pertinho mesmo...
Na praça do Marquês de Pombal há muitos bancos, inclusive o do Brasil, e acesso a um parque imenso com 'estufas frias, quentes e doces', para os apreciadores de plantas, mas aviso: o parque é ladeira acima!
Também passamos em frente ao Edifício das Touradas - um prédio bem interessante do ponto de vista arquitetônico.
No trajeto da linha, é possível acessar vários museus, como o do Fado, de Arte Popular, de Arte Moderna, da Eletricidade, Fundação José Saramago (que eles chamam de Casa dos Bicos), e também o Planetário, porém, simplesmente não há tempo de fazer tudo. Agora que vi o que me interessava mais, vou procurar como ir de metrô ou ônibus para um desses locais.

O elétrico 28 - é uma linha turística que custa 2,80 euros e faz um percurso pelos principais pontos turísticos. Você pode pagar apenas 1 euro por viagem, se comprar o passe recarregável antes de subir no ponto, nos postos turísticos. O passe recarregável também pode seu usado no metrô.

Passe Lisboa - não vale a pena. pois dura apenas 48 horas, e a maioria das atrações fica em torno dos 3 euros, mais barato quando compra duas combinadas, e se você for estudante, então, fica mais em conta ainda.


Problemas com a operadora Lisbon - o motorista é só o motorista, não tente perguntar a ele nada sobre o trajeto pois ele não sabe. Um deles me disse que, para ir à casa de Fernando Pessoa, que constava de um dos pontos, eu devia descer e perguntar que rua, pois era ali perto e alguém deveria conhecer ! Ao desembarcar no ponto do Castelo, eu tive de perguntar, e ele me olhou como se fossse óbvio que era subindo por ali! Pior foram 3 belgas, a quem ele falou em portugues e ficaram lá paradas, com cara de abobrinha, aí eu perguntei a elas se haviam entendido e elas me disseram que não, ele havia falado muito rápido e elas não haviam entendido. Comecei a conversar com elas - tinham um inglês básico, um francês mais básico ainda, e falavam alemão e o flamengo lá deles. O motorista só pára no ponto se alguém tocar, diferentemente de outros países, onde o ônibus sempre pára e o motorista explica em alto e bom som, onde o turista pode ir dali. Eu só descobri depois de perder o Chiado, mas não me incomodei porque do meu hotel dá pra ir andando em 10 minutos.


Problemas com a cidade - todo mundo te recomenda cautela com a bolsa. Gente pobre pedindo esmolas por todo canto, ciganas querendo vender xales e pulseiras e perseguindo os turistas pelas calçadas do Belém, Pelo sim, pelo não, evitei usar o metrô (o balconista do hotel me aconselhou a pegar em outra estação pois  a daqui da frente não é muito segura). Crianças (aí de uns 6 a 8 anos0 trabalando em algumas quitandas e bares, meia sujinhas e com aquela carinha triste que a gente detesta ver aí no Brasil).

Ruas da cidade baixa e bairros históricos - cuidado, eles usam umas pedras para fazer as guias das calçadas que são verdadeios sabões! E as pedrinhas tem muito espaço vazio entre elas, evite os saltos altos e aposte nos tênis e rasteirinhas. Além dos buracos, as pedras de calçadas e leitos carroçàveis (ruas) tem alturas diferentes, são colocadas de modo enviesado, piores, mas muito piores que as calçadas históricas da Bélgica.
Cidade mal sinalizada. Faltam placas para orientar turistas, Eu perguntei porque falo português, mas as coitadas das belgas iam ficar lá na Porteira do Sol procurando um castelo... Eles simplesmente assumem que você pensa como eles - por exemplo, onde há audios, ao invés de estar escrito English, Deutsh, Français, há bandeiras dos países, como se todo mundo que falasse francês conhecesse a bandeira da França (que eu nunca lembro se tem as listras na vertical ou na horizontal) etc...No ônibus havia dois botões e eu levei um tempo para entender qual era o do volume e qual era o de aúdio. Quando aos cardápios, há muitas opções que não estão lá escritas - aí você pregunta: não tem um café, ou um pastelzinho de nata? E eles dizem: tem. sim, não está aí, mas é só pedir que a gente trás. ?!?! Pelo sim, pelo não, antes de sentar, olhe bem nas vitrines e nos pratos dos outros (discretamente) para verificar o que eles servem.

Pontos positivos:
Os lisboetas são amáveis, hospitaleiros e prestativos. (apesar de não acharem necessário conhecer o trajeto do ônibus que dirigem)
A comida aqui é saborosa- tudo tem gosto bom.
Os preços são bons - comi no restaurante Portugália, muito bom, no belém, e o preço lá é quase o mesmo que nas ruas do Chiado. Então, não evite os restaurantes bons, você estará mais confortável pelo mesmo preço. Lembrancinhas e roupas tambem estáo a bom preço.
Aqui em Portugal as gorjetas não estão inclusas - diferente da França onde tudo é 'accompli' e eu tinha vontade de pedir de volta, tão mal eles atendem.

domingo, 6 de julho de 2014

Turismo cultural - alguns artistas portugueses.

Dois desassossegados escritores portugueses.

Um ser plural e fascinante - Fernando Antonio Nogueira Pessoa.

Livro do desassossego, Fernando Pessoa: (heterônimo Bernardo soares)
Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos – a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo.”








 

A Casa de Fernando Pessoa, a última morada do poeta, hoje Museu, guarda lá o seu úlitmo quarto com seus objetos pessoais: a máquina de escrever, o baú, o chapéu, um retrato para o qual ele pousou, um mapa estral.
A excelente biblioteca do autor, outra biblioteca com obras da autoria e sobre o autor, salas de vídeo com atividades até para crianças e bem interessantes, salas de conferências, um restaurante, o Flagrante Delito. Uma parte da beblioteca é dedicada a projetos de 'pequenas pessoas' , ou seja , os miúdos. À saída, na loja, podem ser adquiridos livros em edições modernas e as usuais lembrancinhas. A decoração da casa é caprichada, de bom gosto e bem humorada.
À entrada, pisamos no mapa astral de Fernando, e vemos alusões a seus heterônimos nas paredes.

Vamos às informações colhidas na casa:

Nasceu em Lisboa, no dia de Santo Antonio, 13 de junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira.
Ficou órfão de pai aos cinco anos. No mesmo ano morreram de tuberculose seu pai e seu irmão Jorge.
Em 1895, sua mãe casa-se com o cônsul de Portugal em Durban (África do Sul) por procuração e segue com o filho, que lá ficará pelos próximos dez anos, excelente aluno, tão bom que em 1903, no exame de admissão à Universidade do Cabo, ganhou o prêmio Rainha Vitória para o melhor ensaio em inglês. Tem uma meia irmã chamada Henriqueta Madalena Nogueira Rosa Dias.
Regressa a Lisboa em 1905, sozinho, para cursar Letras, pensando em seguir carreira consular, tendo abandonado os estudos em poucos meses. Trabalhou como correspondente comercial de língua inglesa e francesa em várias firmas e tentou, sem sucesso, estabelecer-se como empresário. Enquanto escrevia foi-se mantendo como jornalista, crítico literário, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário. Viveu em 16 casas diferentes, a última esta que foi mantida com seu nome.
Conhece-se um único romance seu, com Ofélia Queiroz, em duas fases: em 1920, e de 1929 a 1931, restando a abundante correspondência trocada pelo casal.
A originalidade de sua obra desenvolveu-se em torno de seus heterônimos. Aos seis anos de idade Fernando criou seu primeiro amigo imaginário, Chevalier de Pas, através do qual escrevia cartas para si mesmo; em sua juventude criou Charles Robert e Alexander Search, até o dia em que Pessoa diz terem surgido seus três princiapis heterônimos, 8 de março de 1914. Cada um dotado de biografia, posição política e religiosa, distintos estilos literários e aspectos físicos diferenciados. Há um semi-heterônimo, assim chamado porque sua personalidade era muito parecida com a do poeta: Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, e que escreveu o Livro do Desassossego, publicado em 1982.
A este universo heteronímico composto pelo poeta da natureza, Caiero, pelo neoclassicista Resi e pelo modernista Campos, ajunte-se um detetive, um frade, um filósof, vários tradutores, um fidalgo suicida, uma mulher corcunda pela tuberculose e o astrólogo Rafael Baldaya, que também era ocultista. Pessoa caracteriza seu projeto literário como 'um drama em gente' e cultivou a 'arte do fingimento', dizendo sentir com a imaginação.
Em 1914 na revista de arte Athena, ele dá a conhecer Ricardo Reis, com vinte Odes. No úlitmo número desta revista sairia também O guardador de rebahos.
Em 1915 publicou 2 números da revista Orpheu, em que publicou a peça Os Marinheiros e os poemas Chuva Oblíqua, e onde apresentou Ávaro de Campos. Foram seus colaboradores na empreitada: Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros, Armando Cortes Rodrigues, Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho e alfredo Guisado.
Em 1927, em Coimbra, a revista Presença passaria a publicar poemas e prosas de Pessoa.
De 1929 a 1932, Bernardo Soares surge em público e assina onze trechos do Livro do Desassossego.
O único livro que Fernando publicou em português foi Mensagem, em 1934. Com este livro concorreu  ao Prêmio Antero de Quental e ganhou um galardão de segunda categoria.
Morreu a 30 de novembro de 1935, em Lisboa, provavelmente de pancreatite aguda.
Suas última palavras foram escritas em inglês: 'não sei o que me trará o amahã'.
Foi sepultado no cemitério dos Prazeres e, em 1985, seus restos mortais foram transferidos para o Mosteiro dos Jerônimos.

Seu legado: 30 mil papéis originais, datilografados ou manuscritos, em cadernos, agendas, papel timbrado dos lugares em que trabalhou, guardanapos dos bares que frequentou, e outras folhas soltas, inéditos a maior parte, na data de seu falecimento.

trecho de carta enviada a Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro de 1935:
"Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (nào no estilo de Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade) e abandonei o caso. Esboçava-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (tinha nascido, sem que eu o soubesse, o Ricardo Reis)...
Anos e meio ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá Carneiro, de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já não me lembro como, em uma espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegiu. Num dia em que finalmente desistira, foi em 8 de março de 1914, acerquei-me de uma comoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevei trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase, cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal de minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título: O guardador de rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caieiro... E tanto assim que, escritos que foram estes trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa...
Aparecido Alberto Caieiro, tratei logo de descobrir, instintiva e subconscientemente uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque, nessa altura, já o via. E, de repente, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triumfal de Álvaro de Campos - a ode com esse nome e o homem com o nome que tem."

A partir do estudo do espólio literário, sabe-se que a descrição não corresponde à realidade, já que os citados poemas foram escritos em datas distintas. Apesar disso, a comoda alta surge-nos como um ícone, ou logos de sua escrita heteronímica, lugar de memória do espaço habitado pelo poeta, o universo pessoniano.
Esta comoda, que está no quarto do poeta, chamada a comoda dos inéditos, é uma peça simbólica do espólio do poeta, pois nos remete a vivências há muito esmaecidas e nos permite uma aproximação à sua intimidade. Sua irmã manteve o móvel intacto, tal como herdado, apesar de ter menor categoria estética. 

fonte:
Rua Coelho da Rocha 16, Campo do Ourique, Lisboa.


Mais que um escritor, uma referência moral para o mundo: José Saramago.

"Escrevo para desassossegar meus leitores"
José Saramago, apresentado seu romance Caim.

A Fundação José Saramago está atualmente na Casa dos Bicos. Esta casa, construída em 1523 tendo por modelo o Palácio dos Diamantes, em Ferrara, não foi entendida pelos lisboetas, que viram em suas pontas não diamantes mas simples bicos de pedra, e assim ficou apelidada desde então. A Fundação surgiu porque pessoas de diversos países se empenharam em manter a ação cívica e política deste escritor, que transcendeu o âmbito literário para tornar-se uma referência moral em todo o mundo.

Nasceu em 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, no Ribatejo.
Este dia, 16 de novembro, é atualmente conhecido como Dia do Desassossego, e nessa data a Fundação convida o povo a ler nas ruas trechos da obra do escritor, para desassossegar os apáticos, pois dizia o autor: "Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte alguma"

Filho e neto de camponeses, José Saramago veio para Lisboa com um ano, não pode prosseguir os estudos secundários e foi trabalhar como serralheiro, mecânico, funcionário de saúde, tradutor, editor, jornalista. Foi crítico literário da revista Seara Nova e comentador político no Diário de Lisboa.
Em 1947 publicou seu primeiro romance, Terra do Pecado.
Fica 12 anos sem publicar, pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e a partir de 1976 passa a viver exclusivamente de seu trabalho literário.
Casou-se com Pilar del Rio em 1988, mesmo ano em que recebeu o Nobel; e a partir de 1993 repartiu seu tempo entre Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias.
Faleceu em 18 de junho de 2010.

Sua obra é forte, seus textos tem forte cunho político, muitas vezes polêmicos, mas sempre humanitários.
Autor engajado, que nunca ocultou sua militância comunista, projetou mundialmente o seu trabalho e sua figura pública em defesa da liberdade, dos direitos humanos, da inclusão social, imbuído de valores e ideais suscetíveis de construir outra realidade, mais justa, mais humana. Agiu como intelectual inconformista, envolvido nas questões palpitantes de seu tempo.

Exemplos nos trechos abaixo:

"Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta?'
- em entrevista, Las Palmas, 1994

"A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais humanos. Marx e Engels, num livro intitulado A Sagrada Família, têm uma frase que é essencial por em prática 'Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é preciso formar as circunstâncias humanamente'. "
1999



fonte:
www.josesaramago.org
Rua dos Bacalhoeiros - Casa dos Bicos
Lisboa


Um fotógrafo: Artur Pastor.
(1922 - 1999)

O 'poeta da fotografia' deixou um imenso legado. Suas fotos invadiam todos os recantos de sua casa, em pacotes primorosamente embalados. Sua vida foi pautada pelo perfeccionismo, na fotografia e em outras tarefas.
Capturou em preto e branco imagens do cotidiano: pescadores, atividades à beira-mar, atividades agrícolas, das tarefas artesanais ao uso das máquinas. Aposta na dignidade de seus modelos, sem nunca cair no miserabilismo ou na denúncia social da pobreza.

Artur Arsênio Bento Pastro nasceu em Alter do Chão. Passa a infância em Évora e inicia o curso de milicianos em Tavira.
Durante a vida participou de várias exposições, salões fotográficos internacionais e publicações variadas: algumas de suas fotos foram publicadas no jornal The Times.
Com a evolução da tecnologia, Artur Pastor adaptou-se ao progresso, e, no uso de uma câmara digital, já aos 70 anos,registrou o patrimônio arquitetônico do seu país.
Morreu em Lisboa em 1999.
 A família do artista vendeu seu acervo para a prefeitura de Lisboa, após sua morte.

fonte:
arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/...de.../artur-pastor
A força política da imagem: João Abel Manta.

Nascido em 1928, filho da pintora Maria Clementina de Moura e do pintor Abel Manta, formou-se em arquitetura. Sua obra abrangeu várias áreas, como desenho, pintura, cerâmica, mas foi como cartunista que ele se destacou.
É por muitos considerado como o artista que melhor interpretou a Revolução dos Cravos.
Desde cedo tinha idéias anti-facistas, foi preso político na juventude, e processado em 1972 devido a um poster Festival onde a bandeira portuguesa ironizava o nacional cançonetismo. Seu desenho, de alta qualidade, geralmente preto e branco, o que favorecia um certo humor negro, lembrava antigas iluminuras, pelo rigoroso contorno a traço grosso.
Trabalhou em O jornal, que editou em 1978 um álbum denominado Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar, onde aparece a obra de João Abel Manta, que denuncia de forma sutil, profundamente irônica e satírica o estertor do Estado Novo e os primeiros anos decorrentes da Revolução dos Cravos.
Desencantado como as contradições e o esmorecer das promessas de abril, o autro abandonou o cartoon a partir de 1976, justificando:

"a caricatura é extremamente eficaz para destruir qualquer coisa, mas já é difícil fazer com que ela contribua positivamente para construir outra".
A partir daí dedicou-se sobretudo à pintura.



fonte:
http://www.lisboapatrimoniocultural.pt/artepublica/azulejaria/autores/Paginas/Joao-Abel-Manta.aspx