domingo, 24 de novembro de 2013

Cingapura - 2013



O país é novo – criado em 1965, ao separar-se da Malásia, o local era uma ilha de Pescadores.
Os primeiros registros acerca de Cingapura são do século II aonde aparece em uma mapa criado pelo matemático, astrólogo e geógrafo Ptolomeu. No século III existem relatos chineses nos quais ela é denominada como “Ilha no Final” (Island at The End), uma referência a sua localização no extremo da Península Malaia.

Já o nome Cingapura tem sua origem no Século XIV, quando o Príncipe de Srivijaya ao visitar a região teria visto um leão (algo muito improvável para a região, a qual era habitada por tigres e não leões). Após esse suposto encontro, a região passou a ganhar o nome de Singapura, que em sânscrito quer dizer Cidade do Leão (singa = leão e pura = cidade).
Daí deriva o nome e o símbolo do novo país: o Merlion, metade leão (Singa) e metade peixe, em homenagem aos Pescadores.

(fonte: 
http://www.guiadecingapura.com/cingapura/um-pouco-de-historia)

Curiosidades:
O passe de metrô é reciclável e voce ganha desconto quando o recicla!

















As escadas as vezes tem degraus pequenos, eu calço 36 e em algumas andei de lado. 

Comi muitas coisas estranhas e gostosas, algumas indianas, tailandesas, mas estas abaixo dizem ser de Cingapura mesmo:
O drink nacional: Cingapura Sling, livemente alcoolico, muito bom.
O refresco chendol, - feito com g
eleia de Feijão com gelo ralado, leite de coco, acucar escuro de palma e azuki.
O sorvete Ice Kachang – Gelo picado com leite, xarope de frutas, frutas, milho e feijão adocicado
.
Refresco de chá verde com feijão azuki, meio estranho mas gostoso.


Sling

não sei... mas estava bom!

Kachang - viu? tem milho e feijão dentro!


este é um restaurante brasileiro que tivemos a surpresa de encontrar em Marina Bay,
mas claro que não entramos, eu estava lá para comer comida da Ásia, de sabor suave e exótico.

comida indiana - legumes, arroz, massala... muito bom.
Fiquei lá por apenas 5 dias, mas passeamos bastante, vimos o show de luzes em Marina Bay, fomos até a ilha de Sentosa, vimos natureza em todos os parques possíveis, desde as Giant Trees (árvores artificiais no The Gardens) até os animais no zoo noturno, Night Safari, onde a gente anda de trenzinho e faz a pé as zonas não perigosas. Valeu o passeio.














preste atenção nas plaquinhas dos banheiros, ou vai levar um susto!
culturas diferentes... costumes diferentes.







e veja a flor do país, ao natural:






A flor nacional de Singapura,  Vanda Miss Joaquim.

O país é limpo, seguro, oferece muita coisa boa. Recomendo.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Na barca tailandesa



Dizia Saint-Exupery que é preciso tolerar as lagartas, se quisermos ver as borboletas.
Na Ásia, é preciso olhar além da primeira impressão que desaponta nosso olhar asséptico ocidental.
A Tailândia, país do qual eu esperava tanto, a princípio foi apenas choque e horror.  

Cheguei em Bangkok de madrugada, com minha filha, e fomos direto para um hotel próximo ao aeroporto, pois na manhã seguinte, bem cedo, pegaríamos outro vôo para Krabi.
O hotel, para nosso espanto, embora houvesse confirmação da operadora de cartao de crédito, não havia confirmado nossas reservas, não aceitava cartão de crédito, tivemos de deixar quase todo o nosso dinheiro em papel para pagar a diária  (e, mais tarde, umamaratona de telefonemas e mensagens  para reaver o dinheiro creditado em nosso cartão); as acomodações eram bem simples, e saímos sem café da manhã, pelo menos pudemos levar bolachas do frigobar, e, na saída do aeroporto em Krabi, mal houve tempo para pegar uma água, pois os motoristas já estavam nos apressando, para não perdermos a conexão que nos levaria a Kho Pee Pee, nosso destino final.
Calor intenso, guias e motoristas que só falavam tailandês (havíamos pago com antecedência por estes transportes, imaginando que seriam de qualidade), ruas sujas, estradas longas…eu só queria chegar em algum lugar onde pudesse comer, lavar o rosto, usar um banheiro.
Na rodoviária de Krabi, os felizardos que iam ficar por lá puderam aproveitar uma pausa para degustação, mas nós fomos apressados a mudar de ônibus  sem mais delongas, por causa do horário da embarcação… e lá fomos, sem banheiro e sem lanche, quase meio dia, para outro longo percurso até o meio do nada, até uma enorme fila de pessoas que desciam de outros ônibus, para entrar na barca com destino a Kho Pee Pee. Um verdadeiro desfile de etnias, muitas famílias com crianças, muitos grupos de mochileiros identificados por camisetas iguais em todos os alfabetoes imagináveis.
Era passar por um corredor, entregar a entrada, seguir por uma longa ponte, entrar na barca. No convés, malas e gentes amontoadas sob o sol, mal havia espaço para pisarmos uma estreita trilha para os andares abaixo, de onde, se não veríamos plenamente a paisagem, pelo menos estaríamos à sombra.  De cada lado, enormes recipients, onde se podia deixar a bagagem – minhas malas eram grandes e estavam com cadeado – porém muitas pessoas, com mochilas, sentavam-se abraçadas com seus pertences. Quase inteiramente lotado, muitos mochileiros deitavam-se sobre 3 ou 4 lugares contíguos, fingindo dormir, e ocupavam outros tantos assentos com suas mochilas enormes. Fiquei aturdida por um momento, sem saber o que fazer, e acabei por deixar as boas maneiras de lado e resolvi o problema como muitos outros: jogando no chão as mochilas alheias e empurrando para baixo as pernas dos desencanados. Bem difícil saber se o folgado em questão iria entender a lingual que falávamos, mas entenderam muito rapidmente os olhares ferozes e os grunhidos pronunciados em qualquer outro idioma.
No barco, nenhuma lanchonete, nenhum bebedouro; quase meio-dia e nós apenas com bolachinhas e uma garrafa d’água, sem nenhuma idéia de quanto duraria a viagem. Bem, pelo menos eu não tinha idéia, pois minha filha me avisou que a travessia durava cerca de duas horas e meia.
Muitos dos mochileiros agora apoiavam-se uns nos ombros dos outros e pareciam dormir, completamente chapados, exaustos ou drogados.
De todos os lados, apenas se enxergava o oceano. Quase uma hora depois, reparei que havia, por todos os lados, cordas e bóias na água, e pontinhos, centenas, milhares de pontinhos, que aos poucos se revelavam embarcações: canoas, barquinhos a remo, barquinhos a motor, com ou sem cobertura, embarcações maiores, e nenhuma terra à vista. Eu pensava aonde se aventuravam aquelas pessoas, em alto mar, em tão frágeis embarcações, sem saber que, no dia seguinte, eu estaria em uma daquelas trilhas marítimas aventureiras, como um explorador primitivo.
E, de repente, a natureza lembrou-me da necessidade premente de urinar. Sim, havia um banheiro no barco, ou, pelo menos, uma placa onde se lia ‘toilettes’.
Meio ressabiada, enfrentei o desconhecido. Por detrás da porta de madeira, encontrei um amplo aposento, com janelas abertas para o alto mar, o que não chegava a incomodar, já que apenas as gaivotas espiariam ou entrariam por ali, cheirando tão mal como qualquer  banheiro rural; de um lado um buraco aberto em um tubo de um material indefinível, por baixo de uma descarga rudimentar, daquelas de cordinha, nenhum papel higiênico e, evidentemente, nada que se parecesse com uma pia.  
Eu sempre carrego comigo, em viagens, apetrechos essenciais, para emergências corriqueiras como esta.
Nem por isso deixei de rir ao ver, do outro lado, pendurada sobre um tonel enorme, cheio de água esverdeada, uma concha de plástico bem degastada pelo uso, e, enquanto imaginava quantas pessoas haviam se utilisado da tal concha, e de que maneira haviam tentado limpar as mãos sujas com aquele líquido imundo, eu dava graças pela engenhosidade moderna, que colocava ao alcance de qualque mulher em apuros como esse, uma preciosidade, da qual não abro mão em nenhuma viagem: lencinhos de papel umidecidos.  

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

2013 - passeando depois da aposentadoria...


14 de outubro

Aeroporto de Gaurulhos

Cheguei com muita antecedência – o trânsito estava bom,  o motorist chegou na hora, e o check in já estava aberto – ao pesar as malas, a de mão estava com 7 kg – não 5 como eu supunha, e tive de despachar – já a grande estava com apenas 23 kg e não 30 como eu esperava, eu poderia ter trazido mais roupas e alguns livrinhos.
Há uma sala de meditação ecumênica – no altar há uma lâmpada, e muitas flores pelos cantos, e silêncio.

O vôo saiu com atraso de meia hora. O avião da Ethirad é confortável, a comida gostosa, serviram legumes frescos como salada, o prato quente bem preparado, a sobremesa comível. O pão é que era sempre uma surprêsa: ou estava quente e eu comia com manteiga ou queijo, ou vinha congelado…
Trouxe um dos cobertores comigo – grande, bonito e quentinho.

A seleção de filmes era sofrível – enlatados americanos, e programaçao indiano, árabe e chinesa sem a opção de legendas em ingles… ainda bem que nos jogos havia um bom programa de xadrez, o Kasparov; e nas seleções de músicas, belas músicas árabes, além de clássicas e dos nossos ritmos modernos.
Também havia alguns documentaries em ingles sobre os emirados árabes, um deles sobre um parquet nacional marinho em Abu Dabi.

Em Abu Dabi, uma longa espera de cinco horas em um aeroporto vazio – após nosso vôo chegar, o próximo avião era após 3 horas, depois o nosso vôo coincidia com o horário de outro vôo para o Japão.
Poucas lojas – belíssimas jóias, bolsas, e o dutty free de sempre – comprei lá o que pretendia: perfumes, cosméticos, e trouxe alguns doces árabes.
Interessante que tudo o que você compra tem a etiqueta FRESH e a data da embalagem, com o dia, no casa, 14. Café delicioso, como era de se esperar, com o detalhe que o avião tem cheiro de café…

Não gostei de eles voarem com as luzes apagadas e todas as janelas fechadas – não deixavam levantar as escotilhas – por 12 horas – para a tripulação deve ser ótimo viajar com passageiros dormindo, para quem pretendia escaper do jetlag lendo ou fazendo palavras cruzadas, não ajudou, além de que ninguém consegue dormir por 12 horas seguidas, e se dormir, quando chegar a seu local de destino vai ser problematic… O lado positive é o sossego – pouco barulho de conversinha, pouca gente circulando pelos corredores, ninguém abrindo e fechando bagageiro o tempo todo, e, ao chegar, todo mundo sentado e saidno aos poucos sem atropelo.
Banheiros não muito limpos, mas sempre tenho à mão lencinhos de papel secos e umidecidos para usar nos banheiros estranhos desta vida.

A chegada na Austrália foi a demora de sempre – eles fazem coincidir o horário de chegada de muitos vôos para pagar menos horas de trabalho aos funcionários e são rigorosíssimos – desta vez até cachorros vieram cheirar a bagagem! E depois de dois vôos de mais de 12 horas cada, o que eu não queria, nem ninguém, era espera na fila da alfândega! Eles tiravam fotos das pessoas na hora para passar no programa de conferência de rostos, comparando a foto com a do passaporte, um zelo que atrasa a fila e deixou irritados o casal de alemães à minha frente – eu me irritei porque o funcionário fez questão de tirar o meu passaporte da capinha, só de ruindade, é trabalhoso de recolocar e não atrapalha em nada, e no processo ele tirou do lugar minha carteira de vacinação, ou tra coisa bem chatinha de encaixar de volta.

Fe estava me esperando, e compramos lá no aeroporto um chip de telefone, alias retiramos de grça, sendo preciso fazer uma recarga minima, na hora, de 30 dólares; ela vai me passar o aparelho dela, assim fico com telefone, internet online e máquina fotográfica; vamos sair esta semana para comprar um notebook – aqui é mais barato que no Brasil, e o meu já está velhinho, tem uns 6 anos bem vividos, todo arranhado e está falhando, formatei duas vezes no ultimo ano sem muito sucesso.

Hoje é dia 17 – a gente perde um dia quando voa por este lado do globo, e meu vôo durou mais de 24 horas, depois de uma boa noite de sono em uma cama – quem consegue descansar em avião? Ou o piloto não pára de falar com os passageiros, ou é a aeromoça oferecendo comidinhas ou bibidinhas a cada duas horas ou é o barulho das turbinas do avião que não desaparece apesar dos protetores de ouvido.

No segundo vôo, eu vim sentada ao lado de dois gordos, o avião era mais apertado, as laterais tinham 3 assentos e não dois, eu tinha o espaço da janela para esticar meu braço, do outro lado mal podia me mexer, comer foi um malabarismo para usar só os dedos – a coitada do gorda que estava no corridor mal conseguia abrir o espaço destinado à bandeja pois ficava com a barriga esmagada, constrangedor…

Bem, amanhã tem mais.



 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

dois incidentes na Tailândia


Incidente em Krabi

O motorista era tailandês, só sabia de inglês três palavras básicas: you, in, out.
O sujeito amontoara mochilas e malas espremidas no corredor de tal forma que mal cabiam as pernas dos passageiros, e alguns tiveram de carregar sua bagagem no colo.
Ele desconhecia as palavras hotel, resort e mesmo os nomes internacionais como President e Excelsior; quando o turista explicava que ia ficar no Hotel President, ele lia o voucher a gritava nomes em tailandês que ninguém entendia nem conseguia repetir, o que o deixava cada vez mais zangado, e a nós, cada vez mais assustados.
 A cada cinco minutos, o motorista parava, lia a etiqueta colorida pregada em nossa roupa, arrancava o voucher de nossa mão para ler o nome do hotel, jogava uma mala para fora e praticamente atirava o desamparado turista no meio do nada, apontando direto para a mata, para onde seguia em passos incertos o infeliz, rezando para chegar em segurança a seu destino.
Pois foi em alguma curva no meio da paisagem que as três mochileiras surgiram, literalmente, do nada, e acenaram para o ônibus. As garotas eram asiáticas e cacarejavam um inglês horroroso.
O diálogo, passado em frente a vinte pessoas de vinte etnias diferentes, foi, portanto, dito e compreendido por gestos e pelo contexto,  e completado com a imaginação, o que dá maior dramaticidade aos fatos.
As moças subiram no veículo com seus talões de passagem, dizendo que ficariam em qualquer lugar em Krabi. O motorista ficou zangado:
- Vocês não tem reserva? Que espécie de turista maluco sai de casa sem reserva de hotel?
Todos ali eram mochileiros. Todos tinham reservas.
- A gente não tem muito dinheiro. Qualquer hotel simples serve.
- E vocês acham que o hotel está vazio esperando vocês chegarem? Vocês são loucas?.
Ficou claro que o motorista não ia sair do lugar sem que as moças dessem a ele um endereço. Também ficou claro que elas tinham tão pouco dinheiro que os preços dos hotéis que mostrávamos a elas, ansiosos para que se decidissem, para que todos prosseguiessemos a viagem,  estavam além de suas posses.
O norueguês resolveu o problema gritando: - Center! - e mostrando ao motorista o centro de Krabi em seu GPS.
A
s garotas reclamaram, pois ficariam longe da praia, e, enquanto o veículo seguia sacolejando, nos bancos atrás a confusão de Babel estava armada. A nossa prioridade era descer o quanto antes daquele veículo estranho, a delas era escolher de última hora o que todos tínhamos escolhido com semanas de antecedência.
O motorista parou uma vez mais para jogar o indiano no meio do nada, antes de prosseguir. As mocinhas olharam assustadas para o cenário desolador, caíram em si e se acalmaram. Desceram comportadamente no centro de Krabi, onde, se não encontrassem hotel, pelo menos haveria gente a quem perguntar, e lugar onde comer.
O casal de ingleses, idosos, assistia a tudo sem perder a classe. Foram os únicos a serem entregues no conforto de uma recepção, pois iam a um resort. Nós outros, turistas classe econômica, seguíamos pela orla da mata, sem GPS, sem guia, apenas com a esperança de encontrar no fim da trilha uma dessas praias belíssimas, onde, se encontrados em má hora por um tsunami, teríamos ao menos a sensação de morrer ao entrar no paraíso.



O barqueiro


Éramos duas turistas aventureiras em Kho Pee Pee, duas mulheres sozinhas em um país cuja língua não falávamos.
Neste arquipélago, ao criar o mundo, Deus deve ter hesitado. Ali deveria ter sido o paraíso original, e ali, certamente, Eva, ocupada a se divertir nas águas mornas cheias de peixinhos coloridos, teria mandado a serpente passear, em nada curiosa pelos frutos proibidos, mesmo porque por ali nascem frutas bem mais interessantes que maçãs. Talvez por isso o divino mestre guardasse este local para deleite das futuras gerações de netinhos do bíblico casal. Afinal, não tendo nada a ver com o pecado de nossos ancestrais, nada mais justos que nós nos deleitemos, quando o salário permite, em locais paradisíacos.
Bem, a população é outra coisa, e, a princípio, não me pareceu tão paradisíaca assim.
Nosso barqueiro, por exemplo. O tailandês era feio, magro, desdentado. Em São Paulo, eu atravessaria a rua para não cruzar com ele. No entanto, minha amiga insistiu no tal passeio de ‘bote de cauda’, praticamente uma casquinha, que por ser pequena, pode se aproximar de qualquer prainha, esgueirar-se por entre quaisquer recifes, e na qual teríamos a sensação dos navegantes primitivos a singrar os mares em busca de aventuras.
Minha amiga, já se vê, é escritora. Eu, que a acompanho em suas maluquices, desconfio ter propensão ao suicídio. E disse a ela, alegremente, que, se um tsunami nos surpreendesse ali, morreríamos sorrindo, e que, sendo todos nós condenados a morrer um dia, por que não escolher Kho Pee Pee como cenário?
Voltemos a nosso medonho barqueiro, que nem de longe desconfiava do pavor que me provocava seu desdentado sorriso. Ele ajeitou à sombra nossa água, e nos guiou oceano adentro em seu barquinho frágil, por ilhas paradisíacas.
Saímos cedo, e, na maioria das baías e remansos, fomos as primeiras visitantes do dia, tendo a paisagem só para nós. Ele nos orientava aonde ir, onde mergulhar, onde aportar.
Eu, tensa, não parava de pensar que, se ele resolvesse nos matar e jogar nossos corpos ao mar, ninguém saberia. E em meu pensamento vinham histórias terríveis de turistas desaparecidos, assassinados pelos guias. Minha própria cidade, sendo turística, tinha uma crônica de assaltos capaz de alimentar os pesadelos mais estupendos, brutais, apavorantes. E eu ali, estressada, ao lado da minha felicíssima e relaxada amiga, que, em um remanso entre penhascos isolados, mergulhou entre um cardume de coloridos peixinhos, a procurar por Nemo.
O barqueiro, que me convidava em vão a descer do barco, cruzou os braços e olhou para o alto dos penhascos, onde, observei , havia milhares de ninhos de andorinhas. O sol parcialmente encoberto deixava uma parte da baía na sombra, e a outra parte, dourada. A água transparente permitia que se enxergasse cada detalhe das pedrinhas do fundo, que, naquele local, era pouco profundo, e azul como as águas dos atóis. Enquanto eu me indagava se estávamos sobre pedras ou corais, debrucei-me, relaxei, mergulhei as mãos na água, e, então, para meu terror, o barqueiro aproximou-se, acocorou-se diante de mim, olhou dentro de meus olhos e sorriu:
- Este mundo é tão lindo!
O tom com que ele disse esta simples frase foi tão inesperado que me desarmei.
- Eu venho aqui todos os dias – continuou ele – Todos os dias vejo este mundo bonito. Eu amo meu trabalho.
A alegria dele me contagiou e fiquei de repente muito tranquila, e pude sentir o silêncio por detrás do som do mar, do vento, do som dos pássaros.
Eu me senti tão bela e pura como a paisagem ao redor, e cheia de ternura por ele, por minha amiga, e até mesmo desculpei-me pela tola pessoa que sou.
 Este homem me ensinou a felicidade.



Um cânion gaúcho





UMA AVENTURA DIGNA DE PIONEIROS
1979

Quando visitamos (eu e o Sidney) o Itaimbezinho  ainda não existia o Parque Nacional dos Aparados da Serra, cujo projeto estava no papel. Ainda não havia portanto placas, guardas, asfalto nas estradas de acesso nem lanchonetes, guias e outras coisas civilizadas.
Saímos da cidade de São Francisco de Paula, no estado do rio Grande do Sul, de manhã bem cedinho, com tudo o que pudéssemos precisar: água, comida, corda, estepe, estojo de primeiros socorros e espírito pioneiro.
Foram mais de duas horas de verdadeiro deserto. Coxilhas e mais coxilhas, como dizem os gaúchos, sem ver casa nem gente, um ermo, coxilhas até enjoar!
Itaimbé vem do tupi e quer dizer pedra (ita) afiada (imbé).
Nosso passeio foi emocionante, pois ainda não havia por lá muros de proteção, grades, guardas, nada, a sensação de estar sozinho em um local selvagem e perigoso é incrível!
Se eu cometesse um crime por lá, derrubasse alguém desfiladeiro abaixo, ninguém descobriria. Era o cenário perfeito para uma história de crime.
Cheguei bem pertinho do abismo, até dava tonturas e tirei fotos de borboletas, flores e da paisagem, é claro, com a lente zoom do papai. Algumas saíram ótimas.
Claro que hoje, com o Parque Nacional dos Aparados da Serra bem estruturado, o turista tem segurança e conforto.
Conforto eu gosto, mas segurança eu passo, se tirar a emoção da descoberta. Eu não troco por nada essa deliciosa visita a uma região selvagem que guardarei com emoção em minha memória por toda a vida.
E segue aí embaixo algumas informações sobre o Parque.


ATRAÇÕES
O maior cânion do parque é o Itaimbezinho, com 5,8km de extensão. Trilhas levam até as suas bordas e de lá, em dias claros, pode-se ter uma visão até do litoral do Rio Grande do Sul. Os mais aventureiros podem seguir trilhas que levam ao vale dos rios. Uma caminhada de oito horas até o Vale do Rio do Boi, leva a um lugar conhecido como Cruz, onde se vê uma das curvas formadas pelas fendas na montanha.
Cachoeiras despencam das bordas dos cânions. A mais famosa delas é a Véu de Noiva com 720m de altura. Além disso, observar a rara Floresta de Araucária e os animais ameaçados de extinção pode ser uma boa experiência.

Cânion Itaimbezinho 
                                                     
O Cânion Itaimbezinho localizado entre as cidades de Cambará do Sul, e Praia Grande, é o principal atrativo do Parque Nacional Aparados da Serra. Com Altura das Paredes de até 720 metros, largura de aproximadamente 600 metros e uma extensão de 5.800 metros
Na borda do Cânion – parte alta do Parque – é possível percorrer duas trilhas: a Trilha do Vértice e a Trilha do Cotovelo
.


A Trilha do Vértice são 1,1 km de ida e volta. Pode-se observar cerca de 30% do Cânion, a Cascata das Andorinhas e a Cachoeira Véu de Noiva

ASPECTOS NATURAIS
Um derrame de lavas há 130 milhões de anos se espalhou pela superfície em forma de crosta. Essa crosta rachou ao meio, formando bordas afiadas que parecem ter sido esculpidas. Assim surgiram os cânions da região, possuindo uma profundidade média de 600m. O nevoeiro que quase sempre envolve essas formações se deve à grande diferença de temperatura.
A flora do parque constitui-se de trechos de Floresta de Araucária, campos e floresta pluvial atlântica. Seus principais representantes são, respectivamente, o pinheiro-do-paraná, gramíneas e ervas, e árvores de grande porte como a cangerana.
Entre os mamíferos que constituem a fauna estão o puma, o lobo-guará, o graxaim e o veado-campeiro. O parque abriga três espécies de aves ameaçadas de extinção: o gavião-pato, o gavião-pega-macaco e a águia-cinzenta.



Férias deliciosas no Espírito Santo




Em 1987

Curtimos um sol legal em Vitória, neste verão.
Fomos de avião e ficamos em um hotel chamado Porto do Sol, na praia de Camburi.
Coisas divertidas aconteceram nesta viagem.
No avião, Tatiana, muito engraçada, dizia:
-Mãe, eu quero um pouquinho daquele algodão doce lá fora.
-São nuvens, querida.
-Mamãe, quero comer nuvem.


Depois a minha caçulinha disse:
- Pensei que o avião batia asas como uma borboleta.
Pode?


Tomamos sol. Bebemos muita água de coco. A gente mora no litoral, mas a água de coco que a gente bebe como turista na praia dos outros é mais saborosa, não sei porquê.
Comemos moqueca, um ensopado da terra, que o pessoal cozinha em pesadas panelas de pedra. É claro que a minha mãe teve de comprar uma das tais panelas.
Nós paramos em frente ao elevador do hotel, logo na chegada, conversando, conversando, conversando, minha mãe fazendo as perguntas que queria para o empregado do hotel que fica montando guarda em frente ao elevador para os hóspedes não fugirem sem pagar a conta, e nada do elevador chegar.
Eu digo ao funcionário do hotel:
-O elevador é sempre demorado?
-Não, senhora, o elevador é bem rápido.
-Porque hoje está demorando a descer?
-Porque a senhora precisa apertar o botão aí no painel.
Pois não é que ninguém tinha chamado o elevador? Fiquei vermelha, as meninas sufocaram de tanto rir...
Domingo fomos jantar fora, e não sabíamos que haveria uma tal de ‘noite árabe’ no hotel. Eu adoro comida árabe. Bem, quando chegamos o maître perguntou:
-Vão jantar?
Minha mãe disse que já havíamos jantado, mas que íamos comer a sobremesa. Vai daí eu e Fernanda fomos ao salão e não resistimos. Voltamos com dois enormes pratos com quibes, esfirras, homus, pão sírio, charutinhos, comemos e comemos e depois retornamos com dois outros pratos imensos cheios de pastéis de amêndoas, doces de gengibre, de macarrão, de nozes e balas de goma.
O maître ficou observando e eu não resisti:
-Comemos pouco porque já havíamos jantado...




Mamáe disse que nós exageramos. Mas estava tão bom...
Não devo esquecer as coisas importantes, ainda não falei das areias monazíticas da praia de Guarapari. Uma areia escura, radioativa, que dizem fazer bem para quem tem reumatismo.
Poderia começar o relato desta viagem assim:
‘Palavras derivadas do tupi: capixaba, o que lida com a terra; guarapari, armadilha para guará. Para quem não sabe, eu não sabia, guará é um passarinho lá daquele local.’



Ora, quem se liga nestas gramatiquices!

Quando atravessamos para Vila Velha, em um ferryboat, Tatiana começou a chorar, eu não estava entendendo, e a Fernanda me contou que, um dia, indo ao Guarujá com a tia Sandra, a Tatiana havia enjoado na balsa.
Vimos uma enorme aranha caranguejeira em Vila Velha, quando subíamos para o Convento da Penha, e, é claro, paramos respeitosamente para a importante senhora atravessar bem sossegada.
E o melhor da viagem foi conhecer a fábrica de chocolates Garoto e é claro que nos entupimos de chocolate.
Valeu!

E quando voltamos ao hotel, a noite começou a cair, e, distraídas olhando a paisagem, me surpreendi com a pergunta da Tati:
Mãe, quando a gente vai descer?
Quando chegarmos ao hotel.
E quando o motorista vai parar o ônibus?

- Quando a gente puxar a corda e der o sinal pra descer.
- E porque você não puxa a corda?
- Porque inda não chegamos ao hotel, querida.
- O nosso hotel não é aquele ali?

E eu mais que depressa, puxando a corda e gritando:
Para, por favor, motorista! - pois, distraída, ia perdendo o ponto....

Tatiana, apaixonada por água, não podia deixar de aprontar uma das suas. Eu a coloco na banheira cheia de água para tomar seu banho de imersão, ela abre de novo a torneira quando eu saio, fica brincando e quando me dou conta, corre água como uma cachoeira pelo carpete do quarto... e para explicar para a faxineira que a torneira ficou esquecida aberta...


Ao sair do hotel, rumo ao aeroporto, carregada com duas caixas de sapatos pesadas, em o rapaz do hotel me ajudar e eu aviso:
- Cuidado, é frágil
O rapaz, curioso, quis saber o que havia dentro das caixas e quase se estatela de rir com minha resposta:
- Conchinhas.
Ele deve ter pensado: Turistas!

               


grutas mineiras

em 1992

GRUTAS



Esta viagem só aconteceu porque eu errei o caminho.
Nós íamos passar uns dias em Termópolis, um hotel fazenda perto de Bebedouro, mas a bifurcação da estrada nunca que chegava, e, quando me dei conta, já estávamos em Minas Gerais, aí eu resolvi esticar até Sete Lagoas, uma cidade mineira bem legal pra trilhas e caminhadas, e, na volta, passeamos no zoológico de BH e circulamos pelas grutas ao redor.


No zoo aconteceu uma coisa engraçada. Minha mãe perguntou baixinho em meu ouvido  em que língua estavam conversando dois rapazes ao lado, e eu:
Como assim? Em português.
Ela insistiu:
Não é não.
E eu:
Claro que é em português! Pois se eu estou entendendo...
E ela:
Mas eu não estou!
Aí me toquei, prestei atenção e vi que eram franceses, mas como o francês é minha língua do coração...
Vi também no zoo uma cena que observei por longos minutos, com o interesse de um biólogo: um macaquinho pegou um passarinho morto e ficou girando o bichinho nas mãos por longo tempo, e depois, foi desmembrando, pedacinho por pedacinho, olhando, curioso, como se estivesse a se perguntar: o que é isto, e cheirava, analisva, pesava nas mãos, olhava contra a luz...como um verdadeiro cientista...


Bem, a primeira gruta que visitamos em nosso circuito foi a do Rei do Mato.

Diz a lenda que um homem louro, fugitivo, se escondeu na gruta e ficou morando por ali. Ficou conhecido como Rei do Mato e daí veio o nome da gruta, que só foi aberta para visitantes muito mais tarde, depois que os técnicos do governo colocaram passarelas, escadas de concreto e iluminação lá dentro.
Esta gruta fica perto de Belo Horizonte e é diferente das outras por ser muito grande messsssmo, com abismos profundos, salões imensos. Não seria possível percorrê-la sem as pontes em alguns locais, e as grades de proteção são realmente necessárias. Imagine que um de seus salões tem vinte metros de altura! E há um abismo sobre um lago subterrâneo! Seus belos cristais de calcita chegam a ter trinta centímetros de diâmetro.





O conjunto de formações dentro de uma caverna recebe o nome de Espeleotemas. Neste salão encontramos diversas formações, dentre elas uma estalagmite, (cresce de baixo para cima) denominada "Torre de Pisa"e varias estalactites, (crescem de cima para baixo). Do encontro dessas duas formações resultam as colunas.


Esta formação e causada pela calcita e água que escorre do teto. A calcita é o componente do calcário – basicamente o carbonato de cálcio.



  
Lago suspenso ou lago dos desejos, que enche em período de chuvas abundantes e onde os visitantes costumam jogar moedas, de costa, e fazerem pedidos.

COLUNAS GEMEAS



Neste salão encontram-se formações raríssimas, como as duas colunas de 13 a 15 metros de altura e 30 cm de diâmetro. Essas mesmas formações só são encontradas na Espanha, na Gruta de Altamira.


PINTURA RUPESTRE


No interior da grutinha encontram-se pinturas rupestres que datam de 4.000 a 6.000 anos, feitas de sangue animal e gordura vegetal.


Visitamos também Lapinha e Maquiné, outras grutas que também ficam em Minas Gerais.
Uma visita à Lapinha é também um passeio pela história de um dinamarquês que é conhecido como o pai da paleontologia no Brasil:Peter Wilhelm Lund (1801-1880). Dentro da gruta não foram encontrados fósseis mas na sua área de abrangência foi descoberto o primeiro fóssil humano que viveu na região há 12 mil anos

Maquiné

Tivemos sorte de visitar Maquiné sem guia e sem a presença de outras pessoas porque pudemos experimentar sentar em silêncio por alguns minutos debaixo da terra. Que sensação! Ouvi meu próprio coração, o ar entrando em meus pulmões. O silêncio chegava a doer em minhas orelhas. Nem um bebezinho na barriga da mãe se sente assim, pois o bebezinho ouve o coração da mãe e a gente debaixo da terra não ouve é nada. Para não sentir a solidão abri os olhos e olhei para a minha família, sentindo-me segura e protegida ali dentro.
Ah, que aventura! Foi muito bom!